Suas Finanças
Troca intertemporal, ou juntar um pouco hoje para consumir amanhã
Quem está atento às dicas e interessado nos conhecimentos sobre Educação Financeira já percebeu que se organizar financeiramente, poupar e aumentar renda depende de escolhas. Até para quem é iniciante no assunto, é perceptível que o planejamento tão comentado é algo que depende de bom senso, atenção aos cenários pessoais e econômicos e consciência de que as escolhas feitas acarretam consequências.
Usar o cartão de crédito ao invés de pagar à vista tem um impacto no seu bolso, investir o extra no Tesouro Direto ou Previdência Privada também tem suas vantagens e desvantagens e pode render bons frutos. Essa questão de escolhas abre caminho para um conceito interessante na Educação Financeira: a troca intertemporal.
A expressão “troca intertemporal” está relacionada aos efeitos das escolhas que fazemos hoje (no presente) sobre nossas vidas amanhã (no futuro). Do ponto de vista financeiro, podemos falar que, se você gasta muito dinheiro no presente, poderá ter problemas no futuro, ou, de forma contrária, você pode gastar menos dinheiro hoje para ter mais dinheiro amanhã. Podemos pensar nisso como uma escolha no tempo, daí o nome troca intertemporal.
Na prática
A reflexão é importante e envolve elementos básicos: o tempo, a causa e a consequência no curto e longo prazo. Analise o exemplo a seguir: você deseja comprar um produto de informática no valor de R$ 1.000,00 e você possui apenas R$ 600,00, ou seja, faltam R$ 400,00 para que você possa comprá-lo.
Você faz um estudo de seu orçamento para avaliar se é possível comprar e verifica que consegue poupar R$ 100,00 por mês. Seguindo esse planejamento, você levaria quatro meses para ter o dinheiro suficiente para adquirir o produto. Mas se você quiser comprar imediatamente, há uma forma de “manipular” o tempo e adquirir o produto antecipadamente.
Você pode buscar dinheiro em outras fontes, tomar um empréstimo no valor de R$ 400,00 e, com isso, adquiri-lo hoje. Simples, não? Bom, quase. Em geral, a antecipação de consumo traz consigo um custo chamado “pagamento de juros” sobre o valor emprestado que lhe permitiu adquirir o produto no presente. Nesse caso, como você antecipou, terá de pagar prestações de valor maior do que R$ 100,00 por mês ou pagar um número maior de prestações de R$ 100,00 do que pagaria se tivesse decidido poupar primeiro para depois comprar o produto.
Agora, imagine outra situação: você deseja comprar o mesmo produto que custa R$ 1.000,00, verifica a sua conta e percebe que possui essa quantia. Nessa hipótese, você tem duas opções, comprar hoje, gastando toda essa quantia, ou deixar para fazê-lo daqui a quatro meses. Se você escolhe deixar para daqui a quatro meses, você pode colocar o seu dinheiro na poupança ou em outro investimento e passar a receber um prêmio por ter postergado o consumo.
Ou seja, você poderá ser recompensado ao realizar uma troca intertemporal, abrindo mão de algo que poderia ter hoje. Daqui a quatro meses, você poderá comprar o produto e ainda lhe sobrará uma quantia. Nesse caso, a postergação do consumo traz consigo o recebimento de rendimentos. Sabemos que existem outros fatores que fazem uma compra ser antecipada, mas se esperar um pouco, talvez sobrem mais vantagens do que pontos negativos.
Ficam, basicamente, duas opções ao lidar com o consumo no tempo. Essa é a escolha fundamental quando o assunto é gestão financeira: temos a opção de usufruir agora e pagar depois, assumindo uma posição devedora, ou seja, pagando juros; ou podemos optar por pagar agora e usufruir depois e assumir uma posição credora, recebendo juros. Lembrando que não existe uma escolha correta ou errada, apenas uma decisão que exige pensar nas consequências, que, no caso, envolve dinheiro. Boa sorte em suas análises!
Fonte: Caderno Cidadania Financeira do Governo Federal