É hora de voltar a ser conservador ao investir em previdência?

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Artigo publicado originalmente no LinkedIn, por Henrique Haddad*

 

O aumento das taxas de juros tem feito muita gente refletir sobre seus investimentos financeiros e com os planos de previdência privada não tem sido diferente. Com a inversão da tendência de queda da Selic, uma pergunta que tenho ouvido com frequência é: está na hora de optar por um perfil conservador?

A resposta não é tão simples nem igual para todos, especialmente em um ambiente de alta volatilidade e de inflação acelerada. Antes de mais nada, é importante definir o que é ser conservador para cada um e até que ponto é aceitável perder rentabilidade para proteger o patrimônio.

Além disso, na hora de definir como alocar seus recursos em previdência complementar (um investimento que é voltado para o futuro), há muitas variáveis que precisam ser consideradas, incluindo as características pessoais do investidor e seu momento de vida.

Na Fundação Itaúsa Industrial, entidade da qual sou diretor-presidente, os participantes do nosso principal plano, o PAI-CD, podem escolher desde 2014 entre três perfis considerando sua tolerância a riscos.

Temos feito um trabalho de educação financeira ao longo desse tempo e observamos uma migração gradativa do perfil conservador para os perfis moderado e agressivo. Em grande medida, isso ocorreu porque os participantes compreenderam que era importante assumir riscos para aumentar a rentabilidade em um cenário de redução das taxas de juros.

Há uma orientação que sempre passamos aos participantes de nossos planos e que vale muito para o momento atual: quem começa a poupar mais cedo pode optar por uma estratégia mais agressiva, arriscando um pouco e ampliando a rentabilidade ao longo dos anos. Já quando se está mais perto da aposentadoria, é natural optar por mecanismos focados em proteção do patrimônio, portanto, mais conservadores.

Analisando a evolução das taxas de juros, a Selic está em 7,75% e a expectativa do mercado é que encerre 2021 acima de 8,5%. No ano passado, o índice chegou a 2%, o mais baixo da série histórica. Mas fazendo uma retrospectiva, nos anos de 2015 e 2016 a taxa superava 14%. Então, mesmo com a alta atual, é importante ponderar se nominalmente vale mesmo a pena optar por investimentos de renda fixa, considerando a alta dos índices de inflação.

Por outro lado, não podemos deixar de considerar que temos instabilidade econômica no horizonte, tanto no cenário global quanto local. Por aqui, vivemos ainda um ambiente de confusão política e incertezas com a aproximação das eleições do próximo ano. Para quem não quer lidar com oscilações dos resultados nesse mar turbulento, e especialmente para os que não têm pela frente muito tempo para recuperar eventuais perdas, pode ser um bom caminho optar por investimentos baseados em estratégias mais conservadoras.

Porém, colocando em perspectiva, fica claro que, mesmo com várias crises ao longo da última década, os investimentos mais agressivos têm alcançado resultados melhores. Mesmo em 2020, quando começou a pandemia e parecia que tinha chegado o fim do mundo, o mercado se recuperou ao longo do ano e os resultados foram melhores para quem teve mais resiliência apostando em estratégias mais agressivas.

Dito isso, reforço a importância de cada um entender o seu momento de vida antes de tomar uma decisão tão importante. Previdência é um investimento de longo prazo, por isso é importante nas crises evitar movimentos bruscos e não ficar “pulando de galho em galho”. Pense em ciclos duradouros, se ampare em informações de fontes seguras e busque a orientação de especialistas.

Nós, da Fundação, em conjunto com nosso gestor de investimentos, debatemos alternativas e acompanhamos de perto a alocação de nossos ativos. Da mesma forma, oferecemos suporte aos participantes de nossos planos e orientamos na tomada de decisão. Nos momentos de ansiedade, precisamos resgatar o princípio fundamental de investir em previdência: preparar um futuro de tranquilidade.

Henrique Haddad é diretor presidente da Fundação Itaúsa Industrial e CFO & Investor Relations VP at Dexco S.A.

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