Como convencer jovens a investir em previdência

O Brasil enfrenta um desafio urgente: repensar o jeito de abordar futuro financeiro e aposentadoria para que os jovens se interessem pelo tema. Modelos tradicionais que vendem a ideia de “parar de trabalhar” e de uma aposentadoria mais segura por si só já não convencem as gerações Y e Z. Em um mercado de trabalho marcado por ciclos, trabalhos temporários e projetos com propósito, a linguagem técnica e planos engessados soam distantes e irrelevantes para quem busca mobilidade e autonomia.
Por outro lado, para muitos jovens, previdência deixou de ser sinônimo de aposentadoria passiva para se tornar uma ferramenta para preservar liberdade. Em vez de aspirarem a um contracheque permanente, parecem valorizar mais tempo livre, independência e a capacidade de escolher quando e como trabalhar. O argumento sobre a importância da previdência, então, precisa migrar da promessa de “futuro tranquilo” para a proposição de valor: proteção que amplia opções de vida no futuro.
O investimento, nesse quadro, deve ser apresentado como meio para autonomia. Em vez de falar apenas de acumulação, o discurso deve focar em planejamento de renda, mobilidade financeira e possibilidades de reinvenção. Campanhas de mídia ou conversas de pais e filhos que mostrem exemplos práticos de liberdade — poder aceitar um trabalho curto e bem pago, bancar um projeto próprio, viajar ou reduzir carga horária sem perder segurança — terão mais impacto que jargões técnicos.
O professor de filosofia espanhol, Jordi Nomen, autor do livro Cómo hablar con un adolescente y que te escuche (“Como falar com um adolescente e ser ouvido por ele”), afirma que o diálogo com adolescentes exige mudança de perspectiva por parte dos adultos. Em sua proposta, os adultos não devem buscar obediência, mas plantar sementes de reflexão, oferecendo pontos de vista e delegando a decisão final ao jovem.
Aplicada ao tema financeiro, essa abordagem indica que pais, educadores, empregadores e consultores devem apresentar opções claras, explicar riscos e permitir que o jovem experimente decisões com responsabilidade. O aprendizado real vem da apropriação das escolhas e da possibilidade de errar, desde que o erro seja tratado como lição e não como estigma. No caso da previdência, o erro é não começar cedo, desde agora.
Neste cenário de desafios na comunicação, a previdência privada deve ser apresentada como instrumento estratégico para construir uma renda passiva robusta que viabilize a nova visão de autonomia e dignidade. Para ser atraente, precisa ser reescrita em três frentes: linguagem, educação e produto. Linguagem acessível e focada em liberdade; educação financeira integrada desde a escola, passando pela casa até o ambiente corporativo; produtos flexíveis e descomplicados que permitam aportes variáveis e portabilidade de forma simples e rápida.
Empresas e instituições financeiras têm papel decisivo em reconstruir confiança e desejo de investir em previdência. Campanhas que provoquem curiosidade com exemplos práticos, que mostrem o tempo como aliado e que conectem previdência a projetos de vida serão mais eficazes do que promessas genéricas. Se o objetivo é um futuro financeiro sustentável, a conversa precisa mudar: de “parar de trabalhar” para “ter poder de escolha”.